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WSL está no topo do surfe, mas ainda peca no ambiente digital

Publicado em 28/06/2025 às 13:22
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O surfe é um esporte que vem ganhando cada vez mais destaque em termos de audiência. A World Surf League (WSL), entidade responsável pela organização dos principais campeonatos, estrutura suas competições em quatro divisões com pranchas tradicionais, além de categorias específicas para ondas gigantes e longboards. Apesar de sua consolidação no cenário competitivo, a WSL ainda enfrenta desafios para transformar essa dominância esportiva em uma conexão mais forte com o público digital.

Diante disso, torna-se essencial que a liga amplie seu foco para o ambiente tecnológico, com o objetivo de atrair novos fãs e levar o surfe além das competições presenciais. Existem diversas estratégias que podem ser adotadas, tanto para aprimorar a experiência de quem acompanha as baterias ao vivo quanto para engajar aqueles que desejam se manter conectados ao universo do surfe de forma virtual e contínua.

A primeira é inspirada em empresas líderes em outros esportes, como NBA e NFL, por exemplo, que já se destacam também no ambiente tecnológico. As duas têm um forte mercado na área de videogames, fazendo lançamentos anuais com licenciamento de todos os times e jogadores, além de uma cópia fiel à estrutura das competições, estádios e arenas. A WSL deveria se aventurar neste mundo, desenvolvendo um jogo próprio, em parceria com empresas como 2K, EA Sports ou outra.

A criação de um videogame da WSL pode se relacionar diretamente aos estilos das ligas de basquete e futebol americano. É importante destacar que o surfe já se posiciona em nível mobile, com um jogo chamado TrueSurf, mas sem nenhum competidor oficial e um cenário muito precário de representação visual das ondas.

Para se aproximar do mercado da NBA e NFL, a WSL pode desenvolver uma simulação virtual de cada etapa, atraindo também patrocinadores já envolvidos com o surfe competitivo. Trazer o licenciamento dos surfistas verdadeiros, como Gabriel Medina, Italo Ferreira, Kelly Slater e muitos outros é parte fundamental do processo. Criar opções de carreiras com avatares de cada atleta, seguindo padrões estabelecidos de pontuações em overall, como acontece também no videogame da EA Sports, pode ajudar a WSL a atrair ainda mais fãs.

Por outro lado, a liga de surfe pode se apoiar no pioneirismo da Fórmula 1 no ambiente audiovisual. A empresa de automobilismo teve grande sucesso na criação de conteúdo de uma série documentário chamada “Drive to Survive” que acompanha os pilotos dentro e fora das pistas. A F1 fechou parceria com a Netflix, referência no ramo de plataformas de streaming. A WSL deveria seguir o mesmo caminho e ampliar a construção de narrativas para além do que é visto nas praias.

A empresa já desenvolveu um conteúdo nesta pegada, com o programa “Make or Break” na Apple TV. Com alta qualidade de produção, mas pouca promoção e acesso para o público, a série não fez muito sucesso e caiu no esquecimento dos fãs. A WSL pode repaginar a ideia, fazendo uma mudança de rota para que a bolha do surfe seja estourada, aproveitando o mercado que os próprios surfistas atraem. Não a toa, diversas etapas ao longo do ano levam milhares de torcedores às praias, a a expansão deste conteúdo traria muitos benefícios à liga e ao surfe.

O intervalo de tempo entre o Finals da temporada 2025 e a etapa de abertura da temporada 2026 será muito extenso. Ao todo, o Championship Tour pode ter uma pausa de incríveis sete meses sem que os atletas disputem etapas da WSL. A segunda divisão ganha espaço, com quatro eventos do Challenger Series sendo disputados exclusivamente no período sem etapas do CT. Para “tapar o buraco” da elite, a WSL pode criar uma série televisiva com os representantes da primeira divisão do surfe fora das etapas. Muitos deles, inclusive, fazem viagens com o intuito de explorar ondas que não fazem parte do calendário profissional, e é aí que a WSL conseguiria se estabelecer. Fechando parcerias com os próprios atletas, a liga faria uma série de televisão seguindo os passos de alguns classificados ao CT até que a primeira etapa de 2026 seja iniciada.

Outro ponto que a WSL tem um ótimo posicionamento é em seu aplicativo oficial. Nele, os fãs conseguem assistir aos eventos, acompanhar o calendário e o ranking de cada categoria, saber se vai ter competição no dia, assistir séries originais da liga, seguir podcasts, relembrar baterias antigas e, principalmente, participar de um Fantasy escalando seus surfistas favoritos. A vasta lista de conteúdos oferecidos pela liga, no entanto, ainda pode melhorar.

A experiência dos fãs pode se tornar ainda mais interativa durante as baterias. Para isso, a WSL pode se inspirar no sucesso de plataformas como o TikTok, que se destacam pelo alto nível de engajamento e criatividade. Aproveitar esse formato é uma oportunidade para elevar o envolvimento do público com o surfe. Um exemplo é o espectador avaliar a onda em tempo real, publicando notas e simulando a experiência de como é ser um juíz. Outra possibilidade para a liga é estruturar um quiz sobre a história do surfe dentro do aplicativo, oferecendo temas específicos com perguntas sobre cada surfista, etapa ou pico. Dessa forma, o público pode criar disputas amistosas entre amigos, testando quem sabe mais sobre a WSL e o mundo do surfe. Isso estimula o engajamento, aumenta o tempo de permanência no aplicativo e fortalece a comunidade de fãs de forma divertida e interativa.

A WSL tem um poder enorme em mãos e a oportunidade de romper os limites geográficos impostos pelas etapas de surfe em praias ou piscinas. Para isso, é essencial que a liga se posicione de forma mais estratégica no ambiente digital e passe a acompanhar, de maneira mais efetiva, as transformações tecnológicas que marcam o cenário atual.

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