Brasil x Estados Unidos: Entenda por que, diferente do futebol, é tão difícil haver uma "zebra" no basquete

Brasil enfrentará Dream Team americano e chances de vitória são consideradas, por especialistas, como "praticamente nulas"; entenda através do futebol

Publicado em 05/08/2024 às 17:18 | Atualizado em 06/08/2024 às 15:58

Nesta terça-feira (6), Brasil enfrenta o Dream Team dos Estados Unidos pelas quartas-de-final do Basquete Masculino dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Os americanos vem com nomes de enorme peso da NBA, como LeBron JamesStephen CurryKevin Durant.

Uma vitória brasileira é considerada "praticamente impossível" por especialistas do esporte, o que se reflete nas principais casas de aposta, que colocam as ODDS do jogo em 1.01 para uma vitória norte-americana e de 15.47 para uma vitória brasileira.

Além disso, o histórico em Jogos Olímpicos é não só amplamente, mas totalmente favorável aos americanos.

Ao todo, Brasil e Estados Unidos se enfrentaram nove vezes com 9 vitórias americanas e nenhuma brasileira, que até venceu em outras oportunidades por outras competições, mas sempre contra formações norte-americanas formadas majoritariamente por jogadores de fora da NBA.

Por que é tão difícil acontecer uma zebra no basquete? Entenda através de comparação com o futebol

Não é novidade que o esporte mais popular no Brasil é o futebol e com ampla vantagem para os demais esportes.

Tal cenário torna extremamente comum e até natural que o torcedor transporte as noções do nosso esporte favorito para outros, "futebolizando" o basquete e vôlei, por exemplo.

Conhecido como o "esporte do imponderável", uma das coisas que mais diferenciam o futebol de outros esportes coletivos é a grande incidência, em comparativo, das "zebras", que nada mais são que as vitórias de times considerados bastante inferiores aos seus adversários.

Mesmo jogos entre equipes tidas como "de mesmo nível" proporcionam momentos em que um time que tenha menos chances de marcar gols ou que jogue "pior" pela maior do tempo, acabe vencendo a partida.

Além disso, o futebol conta, em torneios eliminatórios, com desempate por pênaltis, que permite que a classificação seja decidida numa dinâmica completamente diferente do jogo em si.

Tal coisa não acontece em um jogo de basquete, por exemplo, que, uma vez que termine empatado, segue para quantas prorrogações (bem mais raras que no futebol), forem necessárias sem um desempate numa "disputa por lances livres", por exemplo.

As estatísticas explicam por que temos muito mais zebras no futebol do que no basquete

Para nível de referência, utilizaremos os números da Pós Temporada (Play-in e Play-offs) da última temporada da NBA (2023/24), que, vale constar, tem uma dinâmica bastante diferenciada do basquete olímpico, e faremos uma comparação com os números da última Eurocopa, disputada entre junho e julho.

A comparação será, basicamente, entre números ofensivos e no aproveitamento de chances criadas e dados defensivos das equipes não serão levados em conta.

Basquete (Play-offs NBA 2023/24)

Em chances criadas, o time com melhor média da última pós-temporada da NBA foi o Indiana Pacers, que teve uma média de 88.4 arremessos por jogo com um aproveitamento de 50,7%, também o melhor dentre as equipes que disputaram o Play-in e os Play-offs.

Ou seja, arredondando, a cada dois arremessos do Pacers, um foi convertido em pontos.

Em contrapartida, o Phoenix Suns tiveram a pior média com 75.8 arremessos por jogo com um aproveitamento de 46,5%, que não foi o pior, com tal posto pertencendo ao New Orleans Pelicans com 39,5% em uma média alta de arremessos por jogo de 84,5.

Sendo assim, o time que menos conseguiu finalizar na pós-temporada da NBA, conseguiu marcar pontos quatros vezes a cada dez tentativas.

Na média dos pontos, o que inclui arremessos de três pontos e lances livres, que distorcem um pouco os pesos de cada arremesso, os times terminaram a pós-temporada com os seguintes números:

  • O Pacers terminou com uma média de 113.9 pontos por jogo
  • O Suns terminou com uma média de 103.3 pontos por jogo
  • Diferença 10 pontos por jogo

A fim de tornar a comparação mais igualitária com o futebol, fizemos o cálculo desconsiderando pontos de três e lances livres.

Portanto, aqui, todos os arremessos valessem dois pontos, com uma dinâmica parecida com o futebol, onde cada gol vale "um ponto" no placar da partida.

Seguindo esses critérios, os números seriam os seguintes:

  • O Pacers terminariam com uma média de 89.6 pontos
  • Suns terminariam com uma média de 70.5 pontos
  • A diferença seria de, arredondando, 19.1 pontos, quase o dobro da pontuação oficial.

Futebol (Eurocopa 2024)

Na Eurocopa, a campeã Espanha foi a seleção que mais marcou gols, tendo balançado as redes em 15 oportunidades nos 7 jogos que disputou ao longo da competição.

Para atingir tal marca, os espanhóis realizaram 123 finalizações, uma média de 17,5 finalizações por jogo e um aproveitamento, em gols, de 12,19%.

Indo para o outro extremo da estatística, o time que menos finalizou na Euro 2024 foi a Escócia.

A seleção, eliminada na fase de grupos, conseguiu apenas 16 finalizações, com uma média de 5,33 por jogo.

Como marcaram 3 gols, eles tiveram um aproveitamento de, pasmem, 18,3%, superior ao da Espanha.

Se formos  analisar não apenas as finalizações, mas todos os ataques das seleções que disputaram a última Eurocopa, considerando, portanto, também as chegadas que não terminaram em tentativa de gol, os números são ainda mais curiosos.

Espanha novamente lidera as estatísticas com 411 ataques e uma média de 58,7 por jogo. O aproveitamento de conversão em finalizações é de 29%, e de gols de "apenas" 3,64%.

A pior seleção nesse quesito foi a Albânia, que terminou a Euro com com 75 ataques e uma média de 25 por jogo, bem abaixo do da Espanha.

Mas, novamente indo para o que importa, gols, os números assustam.

A Albânia marcou 3 gols na competição, terminando com um aproveitamento de 4%, novamente superior ao da Espanha.

Conclusão

Embora reconheça que os números podem e devem ser analisados mais profundamente, com pesos diferentes em cada um dos esportes, esta publicação tem o intuito de sinalizar sinalizar aspectos de cada um dos jogos, demonstrando que o futebol é bastante mais subjetivo que outros esportes, a exemplo do basquete.

No futebol, sobretudo em competições de mata-mata (geralmente as mais valorizadas) a taxa de sucesso das tentativas do líder das estatísticas ofensivas não apenas tende a não ser muito diferente, como, acabamos de mostrar, pode ser até inferior a do pior time naquelas mesmas estatísticas.

Em resumo, no futebol, tendência de um ataque é que não saia gol, enquanto que no basquete, e outros esportes, essa tendência é muito mais equilibrada, quase num "meio a meio".

Ou seja, embora isso seja óbvio, um gol marcado gera mais impacto no resultado de uma partida de futebol do que uma cesta numa partida de basquete.

É claro, também, que a tendência é que os times que mais criem chances sejam os vencedores em qualquer esporte, o que ajudaria a explicar o por que de, apesar de frequentes, as zebras não conseguem se sagrar campeãs.

No basquete e outros esportes, o buraco é ainda mais embaixo e as "zebras" não somente não conseguem ser campeãs, como sequer vencem, ou eliminam, um time considerável extremamente superior.

Tags

Autor