Sport e o "segredo" por trás do trabalho que poderá render "novos Pedro Lima"

Não foi à toa que o Sport conseguiu realizar a maior venda do futebol nordestino. A negociação do lateral-direito Pedro Lima para o Wolverhampton, da Inglaterra, premiou o trabalho minucioso do Leão para prospectar e formar novos talentos. Inclusive, as vendas de Joelinton, Maílson, Adryelson, Mikael e Gustavo também integraram esse processo.

A reportagem do Blog do Torcedor visitou o Centro de Treinamento José de Andrade Médicis e conheceu os departamentos que integram as categorias de base do clube rubro-negro. Na visita, uma constatação: o trabalho é incansável e amplo. O Sport monitora garotos de todo o Brasil com base em critérios específicos de avaliação clínica e técnica.

Tudo isso com uma estrutura, que só nesta temporada, vai receber R$ 5,8 milhões de investimento até o fim deste ano de 2024. O maior orçamento da história do clube para o departamento. 

"A primeira coisa que cobramos dos nossos atletas é a mentalidade vencedora. Para ser jogador do Sport, tem que ter a mentalidade vencedora. Não desistir em nenhum momento, principalmente dentro do campo. Isso é o que nossa torcida quer e cobra", afirmou o supervisor das categorias de base, André Andrade, que há mais de uma década trabalha no clube.

"Todos os jogadores passam por dificuldade na formação. Então, a gente trabalha e tenta ajudar. Faz parte do processo. É preciso ter calma e olhar para o caminho certo", acrescentou André.

O Sport ainda realiza um "intercâmbio" de jovens atletas e conta na base, por exemplo, com garotos oriundos de países da África. No CT, o Leão busca cada vez mais melhorar a estrutura para desenvolver os pratas da casa.

O equipamento já conta com os profissionais e suportes necessários para a formação. Essa estrutura, contudo, irá ser reforçada. Recentemente, o clube anunciou a compra de um terreno de 14 hectares para ampliar o centro de treinamento.

"A revelação dos jogadores depende muito de trabalho, tempo e processo. As divisões de base do clube possuem vários jogadores de base desde o sub-13 até o sub-20, que podem gerar bons frutos. Existe muito para trabalhar e promover mais e mais jogadores para render em alto nível no profissional, além de gerar receita para o clube com uma venda", disse o técnico do sub-20, Thiago Larghi.

"Existe um triângulo na preparação esportiva que é treinar bem, se alimentar bem e descansar bem. É importante que o jogador faça isso bem para poder se desenvolver em médio e longo prazo", salientou Larghi.

Extracampo

É difícil encontrar no Brasil um adolescente que não sonhe com a carreira de jogador de futebol. Mas não basta ter qualidade com a bola no pé. Ciente disso, o Sport se preocupa com o que acontece com os garotos fora do campo. No staff, conta com profissionais para desenvolver os pratas da casa.

No alojamento do clube que, por sinal, foi ampliado recentemente junto com o centro administrativo, existem jovens de várias idades, classes sociais e locais. Todos eles são acompanhados pelos profissionais das mais diversas áreas, seja assistente social, psicóloga e até pedagoga.

"Lidar com sonhos é bem complexo. Temos uma equipe multidisciplinar que nos ajuda a tratar com família, empresários, tudo que envolve o extracampo. A parte burocrática, de contrato, é a mais fácil. Existem muitos detalhes de fora do campo que precisamos trabalhar para ajudar a potencializar os talentos que temos", disse o supervisor da base do Sport.

"O sub-13 é onde o sonho começa. E a psicóloga trabalha lá. Quando chega no sub-17, existe aquele foco em se tornar profissional, fazer grandes contratos. E isso mexe com a cabeça deles. Então, temos um trabalho para ajudar cada um a se desenvolver e viver esse momento da melhor forma", completou André.

Metodologia

O trabalho técnico das categorias de base do Sport é comandado pelo treinador Thiago Larghi. Aos 43 anos, ele abraçou o projeto rubro-negro e deixou o futebol profissional, onde já passou pelo Botafogo, Corinthians, Atlético-MG e Goiás. Larghi foi auxiliar de Oswaldo de Oliveira, quando ele comandou o profissional do Sport, em 2016.

O início do trabalho começou em setembro de 2023. Além da promoção de novos jogadores, o trabalho já culminou nos títulos da MadCup com a equipe sub-19, em Madrid, e o Campeonato Pernambucano com o time sub-20.

"Para mim, é um prazer trabalhar aqui no Sport. Trabalho com profissionais de qualidade e comprometidos. Cheguei com um trabalho que estava sendo desenvolvido. Encontrei jogadores de qualidade aqui. E isso é importante para formar atletas e oferecer ao time profissional", comentou Larghi.

A postura Pedro Lima

Por mais que o clube invista e ofereça todo o suporte para projeção no futebol profissional, o jogador também precisa mostrar o compromisso. Segundo o supervisor das categorias de base, André Andrade, Pedro Lima apresentou características diferentes desde os primeiros dias com a camisa rubro-negra. Dessa maneira, chegou até na base da Seleção Brasileira pelo Leão.

A "precoce" postura profissional do jogador, e também do Sport para lapidar a "joia", gerou a maior venda do futebol nordestino. A ida de Pedro Lima para a Premier League foi concretizada por 10 milhões de euros, cerca de R$ 61 milhões, onde 70% pertence ao Sport, cerca de R$ 42,8 milhões, e 30% ao agente e atleta.

"Quando ele chegou no Sport, já observamos que Pedro Lima tinha um potencial. Pelo biotipo, seriedade nos treinos e também compromisso em cumprir todas as obrigações. Observamos logo que ele era diferente. Quando chegou no sub-17, dissemos: tem que trabalhar ele no sub-20. Quando chegou no sub-20, vai bater no profissional rápido. E deu no que deu", revelou o supervisor da base do Sport.

Crescimento

Com o alto investimento na base, o Sport não quer apenas vender jogadores. A ideia da gestão do presidente Yuri Romão é virar uma referência na formação de atletas, dentro e fora do Brasil. Em junho, o time sub-19 participou da MadCup, torneio internacional, que aconteceu em Madrid, na Espanha.

"Vejo que existem pontos positivos para os jogadores disputarem competições com times internacionais. São jogos duros, partidas difíceis. Hoje, no sub-20, por exemplo, não temos um calendário definido. Então, isso é importante para a maturação dos atletas e também exposição do clube como marca, já que nesses torneios existem scouts de todo o mundo observando e buscando promessas", disse Larghi.