Náutico, SAF e ligação com Jorge Jesus: confira a entrevista com João Carlos Paes Mendonça no Fórum Esportivo
Em entrevista veiculada nesta segunda-feira (16), na Rádio Jornal, o empresário Paes Mendonça revelou detalhes da vida como dirigente no futebol
![João Carlos Paes Mendonça e o repórter João Victor Amorim](https://imagens.ne10.uol.com.br/veiculos/_midias/jpg/2024/12/15/597x330/1_jcpm_radio_jornal_3-33339492.jpg)
O Fórum Esportivo, da Rádio Jornal, contou com o empresário João Carlos Paes Mendonça como entrevistado, nesta segunda-feira (16). O presidente do Grupo JCPM e do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) lembrou fases da vida em quem esteve envolvido com futebol, tanto sergipano, com o Confiança, quanto pernambucano, com o Náutico.
Entrevista com João Carlos Paes Mendonça
O repórter João Victor Amorim, da Rádio Jornal, explorou diversos assuntos envolvendo uma das paixões de João Carlos Paes Mendonça: os esportes.
Sobre passagem pelo rádio
O rádio sempre esteve presente na vida dele, a ponto de chegar a apresentar um programa esportivo e ser convidado diversas vezes para atuar como comentarista:
"Eu ouço muito o rádio. Gosto de todos os programas, não só futebol, mas tudo o que tiver no rádio, estou sempre presente. Acompanho a Rádio Jornal em todas as oportunidades que eu posso, e sempre juntos com futebol, notícias, os programas da manhã, os debates. Nós temos uma rádio forte, que presta um serviço relevante a Pernambuco.
Foi uma passagem, quando eu tinha 16 anos de idade, que eu fui obrigado, para satisfazer um amigo meu que tinha um programa na rádio. Era uma rádio do estado, o governo tinha mudado e não deixaram que ele ficasse na emissora fazendo o programa.
Fui falar com o Secretário de Justiça, que era responsável pela rádio, meu pai tinha um bom relacionamento político, e ele disse que não aceitava de jeito nenhum que ele (o amigo de Paes Mendonça) entrasse na rádio para fazer o programa, mas se eu fosse, ele aceitaria. Meu amigo escreveria o programa e eu iria lançar ao ar. Eu aceitei e durante algum tempo eu fazia, 7h da manhã, um programa chamado 'Bola na Rede', um programa forte de futebol.
E depois quando eu já estava com 20 anos, mais ou menos, eu ia assistir futebol e sempre um radialista chamado Silva Lima me chamava para outra emissora, a Liberdade, para que eu fizesse os comentários iniciais, intermediários e finais daquele jogo. Eu fiz várias vezes, da pista, porque não tinha nenhuma estrutura no estádio de Aracaju. Muitas vezes eu fiz comentários de partidas como Flamengo x Botafogo, Botafogo x Vasco, Vasco x Flamengo. Eles jogavam muito em Aracaju na década de 50."
Envolvimento com o Confiança
Torcedor assíduo do Confiança, de Aracaju, o empresário contou que o envolvimento com o Dragão começou desde a adolescência. Mais tarde, chegou a presidir o clube antes de vir para o Recife:
"Eu tinha 13 anos quando fiz um exame de admissão na Escola Técnica do Comércio. Eu morava no interior, em Ribeirópolis, e fui para Aracaju. E fazendo o exame de admissão, que naquela época eram quatro vestibulares para entrar na Escola Técnica do Comércio, eu encontrei um colega nesse curso. E ele, por coincidência, era ponteiro-esquerdo do Confiança e era auxiliar do mestre da fábrica de tecidos Confiança. E aí eu comecei a torcer para o Confiança, e depois comecei a realmente gostar e vibrar.
Cheguei, com esse tamanho todo, a jogar basquetebol. Cheguei a jogar poucas partidas no primeiro time do Confiança, disputando o Campeonato Sergipano de Basquetebol. Como era ruim o basquete (na época). Se eu jogava com esse tamanho, só podia ser ruim.
A minha ligação com o Confiança é muito grande. Eu fui vice-presidente do Confiança com 19 anos de idade. Naquele tempo era proibido pelo estatuto do clube eu ser vice-presidente, porque eu não tinha 21 anos. O conselho queria impugnar minha presença com vice, mas acontece que o presidente do Sergipe (clube rival) disse que nós (do Confiança) estávamos totalmente errados, porque 'era este quem defende na Federação os interesses, também, do Sergipe'. E eu fiquei lá.
Com 22 anos eu fui presidente e formamos um time espetacular. Depois quando eu vim para cá (Recife), já com 24 anos, eu tive que pedir licença."
Torcida pelo Náutico
O Clube Náutico Capibaribe entrou na vida de João Carlos Paes Mendonça ainda cedo. Na década de 1960, lembra, o Timbu chegou a jogar várias partidas em Aracaju, o que deixava o empresário admirado:
"O Náutico era um time muito forte, era a Seleção Pernambucana, praticamente, que jogava sempre em Sergipe. E o Confiança era um time muito forte, recebia o Náutico, e eu tive a oportunidade de conhecer um médico da delegação do Náutico, se chamava Dr. Villar.
Fizemos um relacionamento bom e quando eu vim pra cá em 1965, eu já conhecia ele e ele me chamou para assistir uma partida do Náutico nos Aflitos. Eu já era torcedor do Náutico naquela época. Vários jogadores que eram daquela época, que era excepcional, eu lembro."
A ligação com o clube alvirrubro se fortaleceu com a vinda dele ao Recife, mas o carinho pelo futebol pernambucano - como um todo - também se sobressai:
"Eu morava perto, morava na Rui Barbosa. Eu tinha um amigo que era um alvirrubro tremendo, era meu vizinho, e íamos sempre aos jogos. Até o finalzinho do hexa nós estávamos assistindo nos Aflitos. Mas eu não sou torcedor de momento, não. Eu já era Náutico (antes) e continuo Náutico.
Eu não sou também esses amores todos. Eu sou um torcedor tranquilo, não vou ao estádio (atualmente) e não sou contra quando o Sport sobe. Ao contrário, acho que o Sport representa Pernambuco. Eu só lamento que o Náutico não tenha conseguido se firmar como um clube forte. Eu vejo, com muita tristeza, o Santa Cruz também fora até da (Série) D.
Mas eu torço por Pernambuco, queria que acontecesse o que acontece na Bahia e no Ceará, com dois clubes na Primeira Divisão."
Quando perguntado sobre para quem torcer em um eventual Náutico x Confiança, Paes Mendonça foi preciso:
"Eu torço para quem mais precisa. Quem precisar ganhar ou empatar, é o que eu torço."
Ídolos do Náutico
O empresário recordou o Hexacampeonato Pernambucano para trazer alguns nomes que encheram os olhos dele dentro de campo, ao vestir a camisa do Náutico:
"Nós tivemos jogadores excepcionais, cada um com sua característica. Mas o Ivanildo, era um volante de altíssimo nível. O Ivan (Brondi) foi um cara extraordinário, grande jogador. Hoje é um excelente homem, médico, uma pessoa excelente.
Kieza era um aproveitador (de oportunidade para gols), mas não era esses horrores todo não, sabe? Era fazedor de gols. É a função dele, naturalmente. Mas nós tivemos Bita, com aquela potência de chute.
Teve Dedeu, que agradava. Quando estava contundido, ele chegava no jogo e dizia: 'hoje o Náutico vai ganhar comigo ou sem migo'. Me lembro bem daquele pessoal, Dida, Lala. A Seleção Pernambucana naquela época, com algumas exceções, era o Náutico."
Já quando perguntado sobre treinadores, Paes Mendonça também resgatou a década de 60, mas chegou a mencionar nomes mais recentes e indicar o perfil de técnico que ele gosta:
"Duque (Davi Ferreira), do passado, foi um excelente treinador. Eu não acompanhei muito o trabalho dos treinadores, mas eu acho que Duque, que poucas pessoas se lembram. Teve Gentil Cardoso, que foi uma peça importante nos anos 60. Hélio dos Anjos, recentemente, foi bom. Eu gosto de treinador jovem, dinâmico, que bota seu time para jogar para frente, fazer gol, que sabe realmente conduzir sua equipe."
Contribuição no Náutico
A ligação de Paes Mendonça com o Náutico vai além das quatro linhas. O empresário, apesar de falar que não ajuda diretamente o clube, dá um jeito de contribuir financeiramente:
"Eu não contribuo com o Náutico não, mas meus netos contribuem. Porque eles não gostam de contribuir, então eu contribuo no nome deles. Eles são torcedores do Náutico mas não gostam de contribuir não.
Eu acho importante, mas não diretamente para jogador. É melhor a gente contribuir para outras coisas, com maior estrutura, do que fazer para os jogadores. Mas o importante é que o Náutico precisa, realmente, fazer um timaço para o time subir para a Série B e depois à Série A."
O Náutico vai manter o hexa para sempre?
O Hexa Pernambucano (de 1963 a 1968) foi a conquista do Náutico mais mencionada por Paes Mendonça. Contemporâneo daquele time, o empresário até quer que outra equipe tenha esse mesmo feito, mas não acha que vai testemunhar:
"Para mim, hoje eu não tenho dúvidas que eu não vou ver o hexa em lugar nenhum. Só no Náutico. Não tenho mais idade para esperar que alguém vá tirar o hexa. No fundo, o hexa é luxo. Era até bom que daqui a uns 20 anos alguém tirasse esse hexa do Náutico."
O que esperar do Náutico em 2025?
Na torcida pelo triunfo do Náutico nos próximos anos, João Carlos Paes Mendonça falou o que deseja para o clube em 2025:
"Voltar para a Série B para depois, no outro ano, para a Série A. Eu acho que é isso o que eu desejo para o Náutico. Precisa de muito trabalho, muita garra. O Náutico precisa crescer, porque é tradição. O Náutico é o Náutico."
Rival do Timbu, o sucesso do Tricolor do Arruda também é um desejo do empresário:
"O Santa Cruz (também) precisa crescer. Não é possível que aqui, do Nordeste, termos só um clube na Série A, enquanto a Bahia e o Ceará têm dois."
A SAF no futebol brasileiro
Tendência no futebol brasileiro, as Sociedades Anônimas do Futebol (SAF) têm sido pauta constante no futebol pernambucano. JCPM, como empresário e entusiasta da modalidade, vê esse movimento de forma positiva, mas com cautela:
"Eu vejo com bons olhos. O que eu preciso mesmo é entender como são esses contratos. Eu vejo a SAF como oportunidade boa para o clube, a depender do contrato. Se eu fosse do Náutico, o estádio, a sede e o CT seriam do Náutico, não da SAF. Nós emprestaríamos a eles a torcida, os jogadores, e eles pagariam a nós para utilizar o nome, a tradição do Náutico, a sua torcida.
Eu acredito muito na SAF, porque é uma sociedade anônima do futebol, então tem que ter profissionais. Não pode ser presidente-torcedor. Não pode estar acontecendo como eu vejo, torcedor se digladiando para ser presidente de um clube. Eu não entendo porque se faz essa briga interna para ser presidente do clube.
O clube é dessa massa, clube como o Náutico, Sport, Santa Cruz, tem uma massa enorme. Então SAF precisa ser estudado. Precisa analisar esses contratos. Eu não daria a oportunidade para o cara ficar com o clube. Ele fica com a marca, com o nome, com a torcida, que a torcida tem que entender que é bom para o clube, e depois devolver. Presidente tem que gostar do clube, mas não pode ser um torcedor doente. Ele tem que ser um executivo para a grandeza do clube.
Botafogo deu certo até agora, o Vasco não deu certo até agora. Atenção, alvirrubros, avaliem a SAF com profundidade para saber se é bom mesmo."
Para matar a curiosidade da torcida alvirrubra, João Carlos Paes Mendonça ainda foi perguntado do motivo de não investir na SAF do Náutico. Bem humorado, o empresário falou que não está ligado a esse tipo de negócio:
"Meu ramo é outro. Eu gosto é de shopping. Eu torço pelo Náutico, assisto todos os jogos, acompanho os comentários de todos vocês (da Rádio Jornal)."
Além do futebol
Ex-jogador de basquete durante a adolescência, ele revelou que gosta de acompanhar outras modalidades além do futebol:
"Eu gosto muito de esportes coletivos. Eu não sou de acompanhar esportes individuais. Gosto de basquete, voleibol, futebol de campo, futebol de salão ainda vai, também. Acho esportes bem jogados, tanto o basquete quanto o vôlei."
Seleção Brasileira em baixa
O tema Seleção Brasileira não passou em branco. Em baixa no cenário internacional, a Canarinha saiu na bronca com o empresário:
"(A Seleção) Precisa aprender a jogar. Esqueceram. Nós, hoje, não temos mais um time organizado. E não pode organizar um time que vai buscar um jogador em qualquer lugar, na Ásia, na África, nos Estados Unidos, na Europa, é aqui (no Brasil), chega de manhã e jogo no outro dia sem conjunto, uma das coisas mais importantes.
O conjunto não se treina mais hoje. Se bota grandes craques para se entenderem, muitos se esqueceram como se fala português, e botam para jogar. Então, ou muda tudo ou nós vamos chegar a nada".
Ligação com o Jorge Jesus
Entre as histórias inusitadas reveladas na conversa com a Rádio Jornal, está a ligação de Paes Mendonça com o técnico português Jorge Jesus, multicampeão com o Flamengo e, atualmente, treinador do Al-Hilal, da Arábia Saudita.
Além de exaltar a qualidade de Jesus, o empresário ainda falou do desejo de tê-lo treinando o Náutico:
"Ele não é bem meu amigo. Nós temos um bom relacionamento. Jorge tem sua vida totalmente diferente da minha, mas nos finais de ano a gente sempre se encontrava em Lisboa. Ele tem um amigo que também é muito amigo meu, o Pedro Cardoso, dono do restaurante Solar dos Presuntos, nós íamos assistir jogos com ele, jantávamos com ele.
Eu só queria trazer ele para o Náutico. Meu desejo era que ele viesse treinar o Náutico. E ele foi para o Flamengo, e eu sou Vascaíno, então já viu que não dá certo. Nunca mais me encontrei com o Jorge. Ele está longe e eu nunca mais fui a Lisboa. Eu dizia a ele 'cuidado com o Flamengo. No Flamengo você não pode perder, porque é um derrubador de treinador'.
Mas como português, ele não me surpreende. Como a escola de Portugal é boa de futebol. Você tem treinadores excepcionais na Europa, como o Mourinho, o que saiu do Sporting para o Manchester United, o Artur Jorge do Botafogo, Sérgio Conceição, que é um bom treinador. É uma escola excepcional.
Ele (Jorge Jesus) já pode vir (para o Náutico), porque dinheiro ele tem. Então o Náutico não tem dinheiro, ele pode vir por amor. Bora Jorge, conhecer o Náutico, as praias. Quem sabe um dia o Jorge não vem para cá?"
Mensagem contra a violência no futebol
João Carlos Paes Mendonça encerrou a entrevista mandando uma mensagem aos clubes de futebol, aos torcedores e às autoridades, repudiando a violência no futebol e e pedindo paz nos estádios:
"(A violência) É lamentável sob todos os aspectos. Primeiro, a briga dos clubes e dos dirigentes. Eles desincentivam (a torcida) e apoiam essa briga boba. Aos torcedores: pelo amor de Deus, vamos torcer pelos nossos clubes com garra, com vibração, vibrar dentro do estádio, vibrar em casa, vibrar na rua com suas cores. É um divertimento. Isso não é outra coisa a não ser o divertimento. Por que essa briga doida?
Não pode deixar que as pessoas não queiram mais ir para os estádios. Ninguém quer levar um filho de menor, ninguém quer levar mais uma mulher. É muito ruim. Vamos crescer o futebol, mas o futebol como esporte, como divertimento, como alegria, e não o futebol violento, baderneiro. Isso precisa acabar. Os clubes precisam acabar com isso, a sociedade precisa se envolver e as autoridades também precisam tomar mais cuidados com o que está acontecendo."
Confira na íntegra a entrevista completa de João Carlos Paes Mendonça no Fórum Esportivo