SAF do Náutico utilizará dinheiro do clube para gerar investimentos de R$ 400 milhões; modelo é similar ao de Ronaldo no Cruzeiro

Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria, explicou detalhes da proposta vinculante feita pelo Consórcio Timbu por 90% da SAF alvirrubra

Publicado em 17/03/2025 às 21:08
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Náutico vive momento decisivos para o seu futuro. Com a proposta vinculante para compra de 90% da SAF do clube por parte do Consórcio Timbu entregue para análise do Conselho Deliberativo desde o dia 11, o torcedor alvirrubro vive dias de ansiedade com relação ao que será decidido.

É comum, até mesmo pela complexidade inerentes ao processo, que os torcedores possuam dúvidas, pertinentes, quanto às questões relacionadas à SAF.

Em entrevista ao repórter Victor Peixoto, do Blog do Torcedor, concedida na semana passada, o diretor da Pluri Consultoria, empresa que assessora o Náutico na operação da SAF, Fernando Ferreira, esclareceu uma série de dúvidas relativas ao tema.

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Dentre elas, está as que pairam sobre o valor de R$ 400 milhões que seriam investidos exclusivamente no futebol do clube ao longo de 10 anos.

Segundo Fernando Ferreira, este valor não se trata de um aporte dos investidores apenas, mas de um "compromisso de investimento".

Isso quer dizer que, uma vez no comando do clube, o Consórcio Timbu estará comprometido a investir R$ 400 milhões no futebol do clube, mas não há uma exigência que esse dinheiro seja oriundo de aporte externo e esse valor poderá ser originário das receitas geradas pela nova gestão.

Isso não significa, no entanto, que os investidores não farão investimentos do próprio bolso.

Diante da situação financeira do clube, que possui uma dívida na casa de R$ 280 milhões, Fernando Ferreira afirmou que aportes terão que ser feitos para que a situação econômica do clube seja sanada e para que o mesmo possa se tornar um gerador de receita.

Investidores terão que tirar "R$ 400 milhões" do próprio bolso caso não consigam gerar valor organicamente

Como dito acima, o que existe é um compromisso de investimento. Embora estejamos na seara de uma proposta, isso tomará "força de lei" quando posto em um contrato, que ainda virá a ser elaborado na última fase do processo da SAF.

Ou seja, o Náutico, como parte envolvida no contrato, poderá exigir à Justiça o cumprimento do que foi estipulado no contrato.

Num cenário hipotético onde o Náutico gere organicamente investimentos no valor de X milhões em 10 anos, os investidores seriam obrigados a complementarem o valor Y restante para que seja alcançado o valor de R$ 400 milhões a partir de aportes externos.

Se gerar R$ 100 milhões, terá que aportar R$ 300 milhões, se gerar R$ 200, terá que aportar R$ 200 e assim proporcionalmente.

As penalidades por descumprimento e as garantias para tal são questões que serão tratadas na elaboração do contrato e é um dos pontos que um grupo de membros do Conselho Deliberativo, encabeçado por Roberto Selva, vem questionando.

R$ 400 milhões é valor mínimo, não máximo

Outro ponto abordado por Fernando Ferreira diz respeito ao fato de que R$ 400 milhões é um valor mínimo de investimento e que engloba uma visão "pessimista" do empreendimento.

Ou seja, no pior dos cenários, o Náutico terá um investimento de R$ 400 milhões exclusivos para o futebol ao longo de 10 anos, no entanto, o valor poderá ser maior em caso de sucesso esportivo, como, por exemplo, um acesso à Série A.

Segundo Fernando, apenas os valores referentes aos direitos de transmissão girarão minimamente na casa dos R$ 60 milhões por temporada em 2025.

Ou seja, uma vez na Série A, o Timbu geraria, organicamente, apenas com uma de suas eventuais fontes de renda, 15% dos tais R$ 400 milhões mínimos previstos na proposta.

Esse, curiosamente, é um dos argumentos dos que se opõem à SAF e dizem que o valor prometido pelos investidores é possível de ser gerado sem a venda das ações do clube em caso de acessos à segunda e a primeira divisão.

Em contrapartida, Fernando Ferreira afirmou que os investimentos no Náutico precisam ser feitos desde já, o que justificaria a busca por um investidor externo.

Modelo da SAF do Náutico é similar ao do Cruzeiro

Segundo Fernando Ferreira, apenas dois projetos de SAF contaram com compromisso de aportes financeiros totalmente externos: Botafogo Vasco (que passar por problemas envolvendo a 777).

De acordo com ele, todos os outros modelos seguem o que foi implementado pela gestão de Ronaldo Fenômeno no Cruzeiro e que, segundo o diretor da Pluri, são muito similares à proposta feita para o Náutico pelo Consórcio Timbu, confira um trecho mais amplo da entrevista:

"Eu digo que as condições com as quais o Ronaldo (Fenômeno) comprou o Cruzeiro são muito parecidas com a proposta feita (pelo Consórcio Timbu) para o Náutico.

O que o Ronaldo propôs? Eu vou investir até R$ 400 milhões, sendo até R$ 50 milhões de forma imediata, já que o clube estava "inviável", precisando desafogá-lo de toda aquela "confusão".

A partir dali criou-se uma métrica: Ou colocar R$ 400 milhões ou gerar R$ 400 milhões para o clube.

Se conseguir gerar os R$ 400 milhões, não se coloca R$ 400 milhões. Isso virou "regra" no mercado, todas as SAF funcionam neste modelo.

Você se compromete a incrementar o orçamento que existe. "Ah, mas vai usar a receita do Náutico? Sim, vai usar a receita do Náutico".

O Náutico desde que caiu da Série A, disputando Série B ou Série C está com a mesma receita "parada" há mais ou menos 10 anos.

Neste ano o clube vai ter R$ 20 milhões de receita, sendo de 14 a 15 milhões no futebol. Os investidores estão se comprometendo no mínimo com um incremento nesta receita.

Questiona-se que a receita que será gerada com o incremento seria alcançada com um eventual acesso à Série B. Ok, mas como se consegue o acesso à Série B? Investindo. Precisa investir para conseguir um acesso à Série B e depois para a Série A.

A questão é a seguinte: É preciso colocar dinheiro no clube para que ele possa destravar o seu potencial, que se continuar travado, vai minguando ao longo do tempo.

Os R$ 400 milhões são um valor mínimo em cima de um determinado projeto que se tem. É óbvio, e isso vale para todas as operações, que investidores e clubes negociarão os termos."

 

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